Há coisas que simplesmente não se explicam... como o que sinto neste momento, em que, acompanhada de um copo de vinho, procuro encaixar todas as minhas emoções num qualquer espaço ou tempo que as contenha.
Já dizia o poeta e com muita razão que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”, e simplesmente não há explicação...
Guardo em mim tudo o que me deste, desde sempre... e isso, já ninguém me pode roubar!
Lembro-me de três poetas que se aproximam do meu extâse emocional...
"Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz precipitado."
Sophia de Mello Breyner Andersen
"Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes - e vieste...
- Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.
Em que seda de afagos me envolvi
quando entraste, nas tardes que apareceste -
Como fui de percal quado me deste
Tua boca a beijar, que remordi...
Pensei que fosse o meu o teu cansaço -
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...
E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
Mário de Sá Carneiro
"Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco."
Mário Cesariny
sexta-feira, dezembro 07, 2007
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1 comentário:
Isto é um pouco assustador.
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